sábado, 9 de janeiro de 2010

Maria, a mulher de Nazaré na perspectiva antropológica do capítulo VIII da Lumen Gentium.

O Concílio Vaticano II percebeu a necessidade de mudar a mentalidade e com essa também os metódos. È perceptivel o esforço de responder aos problemas do mundo moderno, e se abrir as janelas a modernidade , andar ao encontro, de aggiornamento. A aceitação da contribuiçãodas ciências modernas como mediação no modo de fazer teologia é fundamental para essa tomada de posição. Essa influencia é percebida em documentos como a Gaudium et Spes e a Lumen Gentium, que consequentemente exerce influencia sobre a mariologia. Ajudada pelas ciencias humanas a teologia apresenta Maria como a expressão da humana colaboração com a ação savifica de Deus
O influxo dessa nova metologia faz vir a luz um rosto de Maria que ha muito estava escondido. Pouco a pouco se revela a Maria bíblica, a mulher de Nazaré, que enfrentou as dificuldades cotidianas . Aquela que lidou com as coisas costumeiras, as tarefas simples, e banalidade dos fatos cotidianos. Enfrentando as dificuldades da sua época como tantas outras mulheres , vivendo na cidadezinha perdida nos confins da Galiléia, e nessas condiçoes aceitou o chamado de Deus. Sem negar, a nova metodologia deixa na sombra a chamada mariologia dos privilégios, baseada em especulações teológicas, mostrando uma mulher idealizada, menos humana e mais uma semi-deusa, que além de distorcer o papel da Virgem quebra a sintonia com as fontes biblicas, patristicas e liturgicas, e criando ainda dificuldades com os irmãos reformados.
O capítulo VIII fazendo uso do recurso antropológico, coloca Maria no seu devido lugar, centrada no mistério de Cristo e da Igreja, intimamente unida a Cristo e a Igreja, ao mesmo tempo que muito proxima de Cristo, mas por outro lado unida a Igreja e como parte dela. Não sobre a Igreja e nem abaixo, mas caminhando com a Igreja.
A dimensão antropológica não se trata de fazer uma análise antropológica do documento, mas essa palavra seria para indicar a contribuição humana, a abertura humana à vontade de Deus, como adesão madura consciente e responsável. Digamos os valores humanos. O lado humano a abertura da Virgem de Nazaré enquanto ser humano que mergulha em Deus. Esse valor para a reflexão teológica coloca em evidência a atuação humana diante da História da salvação, mostrando como o homem não é simples objeto da vontade de Deus, mas é um sujeito que mesmo nos seus limites coopera no projeto de Deus.
Esse critério aplicado a Maria e ajudado pelos textos bíblicos, nos faz perceber valores expressivos na sua vida histórica, apresenta uma riqueza para a experiencia cristã, o testemunho de fé que mostra na sua generosa cooperação como pessoa livre, consciente e responsável a serviço da pessoa e da obra redentora de Cristo. O documento revela esse elemento humano próprio da criatura que se coloca a disposição de Deus, e Maria é o modelo expressivo da cooperação humana no plano de Deus. Evidenciando sua personalidade feminina de serva do Senhor, e mulher hebreia pobre de Deus, em sua mais completa disposição para acolher a vontade de Deus:
“Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Luc. 1,38). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção.Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. ”
Esse número do documento faz notar que o ser humano também colabora com a obra e com os desígnios de Deus. Para aceitar a salvação é necessário haver uma disposição interior, uma abertura da parte humana para acolher a vontade de Deus. Nesse caso Maria não simplesmente foi submissa aceitando cegamente aos desígnios de Deus, mas quis colaborar, deu a sua contribuição, se colocou consciente e responsável a disposição do Senhor . Abriu seu coração em uma disposição interior de acolher a vontade de Deus. Como o próprio texto acima afirma não foi simplesmente objeto passivo utilizado por Deus, mas colaborou mediante a fé e obediencia ao projeto de Deus de salvar os homens. Quando Maria escuta a saudação do anjo e diante das palavras decide responder o seu “Sim” abraçando a vontade de Deus. Nesse sentido Maria faz uma escolha de entrar com sua vida e sua missão na pública história da Salvação. A graça divina e vontade humana agem em concordância fazendo com que Maria seja disponível a vontade divina. Não são momentos destacados mas agem conjuntamente a benevolência de Deus e o agir humano , de modo que a sua ação é plena de significado salvífico. Com a sua resposta generosa a Deus, Maria coloca a mulher num plano diferente do habitual, já que seja no plano religioso ou social a mulher era inferiorizada. Maria se apresenta como a mulher capaz de uma decisão que tem uma contribuição na salvação da inteira familia humana. Exercendo um papel de indivíduo que executa uma ação responsável e decisiva .
A reflexão teológica avança nessa direção, podemos notar na mariologia pós conciliar ensaios que aprofundam a linha antropologica como os trabalhos de Gebara e Boff que fazem vir a tona o rosto humano da Virgem de Nazaré. Em certo sentido é resposta ao homem pós moderno que bombardeado de tantas idéias e correntes de pensamento e tem a possibilidade de encontrar em Maria o modelo do ser humano que se realiza colocando-se a disposição de Deus.
Bibliografia

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GEBARA, I.; BINGEMER M.C.L. Maria , Mãe de Deus e Mãe dos pobres – Um
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JHONSON, E., Vera nostra sorella. Una teologia di Maria nella comunione dei santi, Brescia, 2005.

Maria mãe de Jesus .



Maria, mãe de Jesus, me doa o teu coração, assim bonito, assim puro, assim imaculado, assim pleno de amor e humildade.
Para que eu possa receber Jesus no pão da vida , e ama-Lo e servi-Lo como tu amaste e servi-Lo como tu serviste, no rosto desfigurado dos mais pobres dos pobres. Amém

Madre Teresa de Calcuta

Uma reflexão sobre as aparições de Nossa Senhora.

O título acima citado é um argumento que chama a nossa atenção, principalmente nos últimos anos, com o aumento do número de aparições de Nossa Senhora, e imagens que choram, ou vertem sangue, vinho, azeite, ou ainda outros fatos miraculosos. Faz saltar aos nossos olhos a necessidade de aprofundar esses fatos para ter o devido discernimento. Sendo assim é de notar que recebe um relevo especial da parte dos teólogos e de outros estudiodos das ciências humanas. Pode ser algo característico da nossa época pós-moderna marcada pelo ceticismo, materialismo, secularismo, sendo o ser humano pós moderno aberto a sensibilidade vivendo no mundo da imagem, um modo de atingí-lo. Podemos compreender as aparições no contexto sócio-cultural da Europa de revoluções.

Nos últimos cinquenta anos o número das aparições anos ultrapassa os a 200, e muitas julgadas de maneira desfavorável, casos onde os videntes e pessoas da comunidade se separaram da Igreja católica.[1] Geralmente, acompanham as aparições fenômenos de toda espécie e profecias, que não devem nem ser acolhidas sem uma fé crítica, e de bases sólida, e nem de todo refutadas, lembrando o elemento carismático da Igreja, assim sendo toda inspiração celestial de fato autêntica deve ser acolhida com sincero respeito. Depois de Beauring e Banneaux(1032-1933) não temos aparições reconhecidas pela Igreja.

O sentido das aparições tem uma perda do valor, pois não tem um lugar que trata delas seriamente, nem mesmo nas disciplinas teológicas, que as define negativamente, a teologia dogmática e fundamental, a define como sendo um acessório desnecessário a revelação, a exegese contrapõe a revelação bíblica, a moral não toca no assunto, nem mesmo a mística e a espiritualidade, não a assumem e o direito canonico antigo se limitava a restrições, no novo direito nem ao menos uma norma. Por isso, primeiro é preciso entendermos muito bem o que se define por aparição para não conceituarmos como o médico francês Marc Oraison que numa perspectiva racionalista, a define como: alucinação.

Em categorias teológicas podemos dizer que o objeto das visões pertence ao espaço-eternidade e não ao espaço-tempo, dai seria estranho a nossos olhos, já que seriam o corpos gloriosos . No caso das aparições da Virgem, sempre está adaptada ao vidente, podemos dizer que pedagogicamente a metodologia divina alcança a quem quer atingir para revelar as mensagem. Podemos dizer que as aparições são uma manifestação sensível do sobrenatural mediada pelos sinais.

As aparição não são uma novidade se recorremos a Bíblia e podemos perceber que continuaram na Igreja em diversas modalidades, várias santos e fundadores de ordens tiveram visões. Nas origens cristã como na vida dos primeiros santos e mártires aparecem esses fenômenos. Na Idade Média as santas Brigida, Gertrudes, Catarina de Sena e de Genova e Madalena Pazzi vivenciaram esses eventos, entre outros.

As visões nem sempre são muito bem acolhidas, as vezes abafadas e caladas. Sempre com o objetivo de defender e com razão a instituição, a dimensão carismática era calada. Com o intuito de salvaguardá-la, mas também a unidade evitando o risco de cismas ou divisões.

No Concílio de Latrão V (1512-1517), por exemplo no que diz respeiro aos temas marianos nenhuma particular afirmação, simplesmente lidou-se juridicamente com as aparições e as pregações. Sinteticamente foi afirmado que: Tudo deve ser examinado pela Santa Sé, antes de ser publicado ou pregado ao povo de Deus. As restrições tem como razão principal a necessidade de proteger a Igreja e não criar problemas com a autoridade de outros bispos. [2] O método usado era o repressivo. O Concílio de Trento(1545-1563) seguiu mantendo as orientações do Concílio de Latrão V. Trento tomou muito cuidado com as imagens miraculosas. O Papa Bento XIV(1740-1758) dirá que ainda que aprovados pela Igreja devemos ser antentos ao sentido da fé católica. A partir de 1875 a Congregação para os Ritos se ocupará um pouco de legislar por decretos essas realidades como no caso de Nossa Senhora das Merces no Chile, Lourdes e Sallete. Pio X disse que a Igreja toma somente uma regra de segurança para nesses casos.

O Concílio Vaticano já imbuido de uma sensibilidade moderna está aberto a dialogar e os métodos são outros. Na Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium no seu capítulo VIII que trata especialmente da relação entre a Virgem e a Igreja, exorta os teólogos e pregadores no que diz respeito ao cuidado com o conteúdo a ser proclamado ao povo de Deus que sejam dilegentes tanto em relação ao falso exagero quanto da demasiada estreiteza de espírito[3] Nota-se sobretudo um ataque a dois males que colocam em risco a profundidade teológica da doutrina sobre a Virgem, o sentimentalismo e devocionalismo puramente superficial.[4]

Pode se entender também no nível do cuidado com a pregação e com a da devoção tratando como deve ser a nossa crença, certamente toca no que diz respeito as aparições de Nossa Senhora tão frequentes nos últimos séculos e se intensificam principalmente depois da proclamação do dogma da Imaculada Conceição(1854).[5] Citamos algumas aparições, entre as modernas[6]:

A Guadalupana, a sua história marca o nascimento da Igreja na América Latina O seu vidente é um nativo. Essa aparição traz em si caracteristicas interessantes, a Virgem toma o rosto e as vestes da cultura oprimida. [7]

As aparições localizadas na Europa datam do século XIX: em 1830, na França temos as três aparições na Rue du Bac, a Santa Catarina Labouré, durante o seu noviciado nas Filhas da Caridade em Paris dando origem a Medalha Milagrosa.

Em Salete , na França, em 1846 onde a Virgem apareceu a dois pastorinhos e chorava pelos pecados do mundo e pedia a conversão dos homens. Foi reconhecida do bispo local.

No ano de 1958 em Lourdes, na França, a Bernardete Soubirous somam-se 18 aparições, depois se tornou lugar de peregrinação, onde várias curas acontecem[8]. Em Pontmain, no ano de 1871, na França, a a Virgem da Esperança, talvez a única aparição silensiosa. As aparições de Fátima, Portugal em 1917, algumas aparições do anjo, e seis aparições da Virgem[9]. Em Beauraing, na Bélgica em 1932, cinco crianças viram por trinta e três vezes a Virgem perto da gruta. Em Banneaux, na Bélgica em 1933, onde a Virgem aparece nove vezes a Mariette Beco, uma menina pobre e se revela a Virgem dos pobres. Entre outras a Signora di tutti i popoli[10] (1945-1949) em Amsterdam , e Garabandal, na Espanha(1961-1971)[11] e a San Damiano, Piacenza, Itália a partir de 1964, a senhora Rosa Quattrini[12]. Essas são as que se destacam tendo uma repercursão na Igreja universalmente.

O discernimento é um procedimento necessário usando para isso alguns critérios: a aparição não deve ser acolhida como um fato totalmente novo que deve mudar a palavra de Deus ou a tradição, mas tem a função de dar esperança e jogar luz sobre o que é já revelado.

A definição da fé é crer no testemunho e aderir aos sinais visivéis, como algo sobrenatural dado por graça, as aparições enquadram nessa categoria, mas o importante é lembrar que as visões não subsitutuem a fé, uma aparição dura poucos segundos, enquanto a fé é permanente. O critério paulino que qualquer revelação que pretende mudar o dado revelado pode ser tida como falsa está vigor nesse caso, pois as aparições tem o papel não de propor doutrinas novas, mas de animar na fé e na esperança. A aparição joga luz sobre a revelação e não se apresenta como algo totalmente novo que muda tudo.Por isso, para ser acolhida se obedece aos critérios, por exemplo, se não existe contradição entre essas mensagens e a Palavra de Deus e a Tradição da Igreja. [13]

Como regra prática: as revelações privadas não podem ter o mesmo peso que as Escrituras, temos uma hierarquia de valores, os textos do magistério evidenciam essa a ambiguidades dos fatos, e um elemento é o bom senso em discernir o que é patologia e sanidade. E mesmo sendo o vidente totalmente são, nunca tomar ao pé da letra tudo, lembrando que pode ter nas mensagens alguma coisa da sua personalidade.

Porque as aparições de Maria e o que tem de positivo?

A Virgem está necessariamente está unida a Cristo e a Igreja. Ela indica o caminho do discipulado de Cristo que se dá na medida em que se cresce na compreensão realizando a missão. Nas suas aparições a Virgem continua cumprindo sua função de Serva do Senhor, aquela que soube acolher com total disponibilidade a Palavra de Deus Encarnada como dom gratuito, de mediadora entre os homens e seu Filho, e a sua função materna. Maria sendo a mais próxima de Cristo é também muito próxima dos membros do Corpo místico pode exercer sua função materna. A comunhão dos santos seria o lugar ideal para colocar e explicar as aparições. Com as aparições crescem as peregrinações aos santuários marianos mostra que a peregrinação moderna está embuida de um caráter mariano, devido ao culto mariano e também a coerente papel de Maria na História da Salvação. As pessoas buscam chegar a Deus através de Maria, a cada dia aumentam os peregrinos nos santuários marianos.[14]

As palavras da Virgem nas aparições assumem caracter profético no sentido que convidam a conversão e a mudança de vida. As mariofanias trazem alguns elementos comuns como: conversão, oração e consagração. A Virgem é a mensageira desses elementos e traz consigo um chamado a responsabilidade que os cristãos tem pelo futuro.





Bibliografia :

Magistério.

Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium

Estudos.

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[1] Cfr. R Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 127-129.

[2] Cfr. Bertetto, Magistero, 843-852.

[3] Cfr. LG 67 in EV 443.

[4] Cfr.G. Philips, La Iglesia y su misterio en el Vaticano II, Historia, texto comentario de la Lumen Gentium,355-356.

[5] Cfr. A. calero, Maria em el misterio de Cristo y de la Iglesia, p. 41. As aparições são fenômenos presentes desde a Antiguidade, mas esse fenômeno se acentua a partir do século XVI. Onde começamos a ter aparições de Nossa Senhora sozinha, não necessariamente acompanhada de Jesus. Principalmente vários santos e muitos fundadores de Ordens religiosas.

[6] Cfr. R. Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 127. Nos referimos a essas como modernas no sentido de diferenciar das aparições biblicas ou dos primordios da Igreja.

[7] Cfr. V. maccagnan, Guadalupe, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 655-667.

[8] Cfr.R Laurentin, Lourdes in Nuovo Dizinario di Mariologia, 795-805.

[9] Cfr. J alonso, Fatima, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 569-576.

[11] Cfr.Site: http://www.profezieonline.com 23/05/2008.

[12] Cfr. Site : http://profezie3m.altervista.org 23/05/2008

[13]Cfr.R Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 134-137.

[14] Cfr. S rosso, Pellegrinaggi, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 1080-1103.

A presença de Maria no Concílio Vaticano II.

O Concílio Vaticano II(1962-1965), sem dúvida é uma referência para a história da Igreja contemporânea, uma tomada de consciência da problemática, sobretudo, da missão da Igreja no mundo moderno e oferecendo novas perspectivas. Convocado pelo Papa João XXIII e encerrado por Paulo VI , foi uma corajosa opção de aggiornamento, e um chamado a abrir as janelas para a modernidade
Maria foi presença constante no Concílio Vaticano II, por exemplo: a primeira sessão do Concílio em 1962, inicia na festa litúrgica da maternidade divina de Maria, escolhida pelo Papa para recordar o Concílio de Éfeso(431), e a primeira sessão foi encerrada no dia da Imaculada Conceição . Em relação aos Concílios precendentes, esse foi diferente, pois não se realizou para resolver problemas doutrinais, mas para provocar na Igreja uma reflexão global sobre a sua relação com o mundo. No que se refere ao tema mariano em específico também foi diferente dos precedentes: os outros se limitaram a apresentar a associação entre Maria e Jesus, na encarnação salvífica, e a força da maternidade divina, no culto das respectivas imagens.(em Trento, por exemplo, o tema mariano foi acenado, sem tomar posição) , já o Vaticano II organizou um tratado completo sobre o tema mariano que toma corpo no capítulo VIII da Lumen Gentium.
A maioria dos documentos também fizeram referência a Maria, mas de maneira breve, como por exemplo, a Constituição sobre a liturgia, Sacrosantum Concilium, exortando que na celebração anual dos mistérios de Cristo, a Igreja venera com amor, Maria, Mãe de Deus, junto com a obra redentora do seu Filho, e admira e exalta contemplando o que a Igreja deve ser. O decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, Presbiterorum Ordinis, apresenta Maria como auxiliadora na missão sacerdotal e modelo de quem colhe a vontade de Deus. No decreto sobre a atividade missionária da Igreja, Ad gentes, todos os membros da Igreja são exortados a pedir a intercessão de Maria Rainha dos apostólos para que os pagãos sejam levados a luz evangélica. No decreto sobre a formação sacerdotal, Optatam Totius, os seminaristas são chamados a amar e venerar com confiança Maria. No decreto sobre o renovamento da vida religiosa, Perfectae caritatis, Maria é apresentada como o modelo de todos os religiosos que pela sua intercessão devem progredir e produzir frutos de salvação. No decreto sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam Actuositatem, Maria é colocada como o modelo perfeito de vida espiritual e apóstolica , pois vivendo uma vida familiar e de trabalho colaborou com o Filho na sua obra redentora. Mesmo depois de assunta, ela continua a colaborar com os irmãos, por isso devemos confiar a Ela própria vida e o apostolado.
Entre os 16 documentos aprovados se encontra a Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, que é denominada sua a Charta magna , cujo tema central é a doutrina sobre a Igreja Católica, nos seus 8 capítulos explicita toda auto-compreensão da Igreja. Essa inicia falando da Igreja, em geral, e aos poucos especifica cada setor começando pela hieraquia, depois os leigos , os religiosos, a vocação de todos os batizados e culmina com a exposição sobre Maria: apresentada na sua relação com a Igreja, nos interessa acentuar a importancia do capítulo VIII, dedicado a doutrina sobre a Beata Virgem Maria Mãe de Deus relacionada no mistério de Cristo e da Igreja que é a síntese bem feita e articulada da doutrina mariana.
A principal novidade mariológica do Concílio Vaticano II foi inserir Maria no arco da História da salvação, especialmente no mistério de Cristo e da Igreja. No enfoque histórico-salvífico evitou-se o isolamento dogmático do tratado de mariologia vencendo o abstratismo e o triunfalismo. O aspecto bíblico mostrou as prefigurações marianas no Antigo, e alguns textos mariológicos do Novo Testamento. O destaque dado ao seu lado humano, como mulher livre, pessoa consciente e responsável, que cooperou ativamente no projeto do Filho. O objetivo pastoral em relação à Maria foi renovar a vida de fé e não criar novos dogmas, sua preocupação era centrar a devoção popular mariana evitando os exageros. Algo muito importante de ser ressaltado é o valor desse documento para a mariologia contemporânea, se tornou realmente um marco decisivo. Afirmando a eclesiologia como necessária à mariologia, o senso eclesiológico contribuiu para realçar a verdadeira proporção dos privilégios de Maria
É preciso levar em consideração que a mariologia nem sempre foi baseada sobre o conteúdo concreto da mulher de Nazaré. Muitas vezes a reflexão mariológica era acusada de ser genérica, dedutiva, rica em conclusões e expressando uma pobreza de ponto de partida com uma exaltação da Mãe de Deus capaz de alimentar o imaginário humano. A mariologia contemporânea centra a figura de Maria na história da Salvação e mostrando o lugar que Ela ocupa nessa, com uma posição única e agraciada pela sua maternidade divina, e como mulher sujeito de fé ligando os dons da graça divina recebidos por Ela e a sua missão histórico salvífica na relação com Cristo e com a Igreja . O grande mérito do capítulo VIII está em conseguir fazer uma síntese harmoniosa, entre a mariologia manulística e a mariologia dos movimentos reformadores. Nessa síntese ambas visões se complementam mostrando Maria no mistério de Cristo e da Igreja.
Podemos concluir que Maria está presente no Concílio desde a sua preparação até a sua conclusão e as marcas que foram deixadas pelos textos do Concílio, fruto de muita reflexão e maturação ainda indicam uma estrada por trilhar onde Maria é proposta como o modelo, ela nos mostra como fazer a estrada confiando na Divina Providencia sem medo de enfrentar os desafios que a realidade nos propõe, sem retroceder, mas avançanda ainda que aos poucos.





Bibliografia:

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___________________, decreto Presbiterorum Ordinis, in EV1/305, 18 novembre 1965: EV1/912-1041.
___________________,Costituzione Sacrosantum Concilium, 103 Liturgia 1965: EV1/912-1041.
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ZIVIANI G., La Chiesa Madre nel Concilio Vaticano II, Roma, 2001.

A Mariologia franciscana no Marial de São Lourenço de Brindis.

A Virgem Maria sempre foi e será uma refêrencia para escola franciscana, um modelo de seguimento e inspiração para viver em união com o Jesus Cristo, em todas as épocas encontraremos frades devotos que a cantam os louvores de Nossa Senhora, e continuamente aprofundam a doutrina sobre a mãe de Deus.

Seguramente a Virgem tem um lugar privilegiado porque está mais próxima do Filho e ao mesmo tempo ligada a Igreja, logo é ela o modelo perfeito para nos inspirarmos para um discipulado autentico o mais próximo possivel a Cristo.

A tarefa de suma importância tange seu conteúdo teórico, é fundamental no que diz respeito ao testemunho de vida. A reforma capuchinha sempre se confiou a Nossa Senhora, os santos homens sempre foram apaixonados por Ela e a tomaram como modelo de vida e inspiração evangélica. Entre os nossos santos temos São Lourenço de Brindis (1559-1619)[1], sendo orfão, se transfere a Veneza, onde aos dezesseis anos entrou na Ordem dos Capuchinhos, recebendo o nome de Lourenço, cedo recebeu encargos, fazendo ministro provincial, e chegando a ser ministro geral de 1602 a 1605. Exerceu um grande trabalho como pregador, e principalmente defendendo o catolicismo contra o protestantismo nascente. Algo que contribuiu para divulgar sua fama de santidade foi o que aconteceu na batalha de 1601, contra os turcos em Albareale(Hungria) onde parte com o crucifixo em mãos, invocando os nomes de Jesus e Maria contra o inimigo. Nessa batalha os cristãos vencem e sua fama de santidade é difusa. Em 1619, morre provavelmente envenenado a Lisboa. Porém seus escritos nos deixam conhecer um pouco desse incansável pregador capuchinho que em 1959 será proclamado por João XIII, Doctor apostolicus.

Um dos seus escritos mais conhecidos é o chamado Marial de São Lourenço de Brindis, na mesma carta apostólica Celsitudo ex humilitate que o faz doutor da Igreja, o Papa João XIII comenta a importância do Marial.

O Marial na sua forma inicial não tem a intenção de ser um tratado de mariologia, escrito para esse fim, mas é uma coleção de 84 sermões sobre a Virgem. Porém a o seu esquema sistemático, no sentido acadêmico, que partem da realidade histórica, bíblica, e espiritual de Maria. O autor medita as narrações escriturísticas, no sentido literal e sobrenatural, e também depois parte da percepção do mistério da salvação na história e transcendência da sua missão de Maria como laço humano para a presença histórica do Verbo divino, com suas qualidades e dons. Aproveita as figuras femininas do Antigo e do Novo Testamento para trabalhar aspectos de Maria no sentido espiritual. Relaciona Maria com o mistério da Trindade, e também como morada de Deus entre os homens. São Lourenço já apresenta temas que serão tratados na mariologia renovada. No que toca ao diálogo com os irmão separados, o autor viveu na época do confronto entre protestantes e católicos por questões confessionais. Aqueles acusavam esses de idolátras: adoradores de Maria, e insistiam que o único mediador é Cristo, por isso, Lourenço defende a posição católica, até mesmo usando expressões violentas.

O Marial é tão completo sistemáticamente falando que o autor estabelece mesmo o primeiro principio como acontece com todas as outras ciencias. Sendo estabelecido que o primeiro princípio para a mariologia sistemática é a maternidade divina, sem esquecer outros de menor valor na hierarquia dos valores ou digamos não menos importante, mas que são classificados em um segundo plano, como a singularidade, a conveniência, eminência, a analogia e semelhança de Cristo. Todas as ciências tem um primeiro principio. A reflexão laurenciana estabelece o primeiro princípio para a mariologia sistemática , que é a maternidade divina, sem esquecer o que ele chama de principios secundários que estão ligados ao principio primário.A singularidade afirma que não existe ninguém igual a Maria. Ela é uma pessoa de tudo singular realmente um milagre de Deus. Pela sua pessoa, pelo que Deus realizou nela e pela lugar que ocupa. Maria é o “Capolavoro di Dio”[2]

O principio de conviniência segundo qual Deus escolhe uma pessoa para uma missão e chama e dipõe as coisa de acordo que o chamado seja digno de sua eleição. Deus enriquece Maria de dons particulares compativeis com o seu chamado de ser Mãe do Verbo e esposa de Deus e usa esse principio para sustentar temas como a Imaculada Conceição.

A eminência com esse princípio mostra a nobreza de Maria . Lourenço nos faz entender a grandeza de Maria usa a mulher do apocalipse para ilustrar esse principio e afirma que Maria é menor que Cristo, como a lua é menor que o Sol, porém brilha mais que todos os outros astros e outras criaturas, assim é Maria.

A semelhança e analogia com Cristo através desse principio afirma que Maria é semelhante a Cristo em tudo. Cristo está direita de Deus e Maria está direita de Cristo. Também os santos são semelhantes a Cristo, porém Maria de modo singular, não igual, semelhante. Resumindo o Marial apresenta uma completa elaboração da doutrina sobre a Virgem que segundo Frei Bernardino de Armellada, se queremos traduzir um conceito o Marial, a palavra mais perfeita para descrevê-lo seria “plenitude”. O conjunto de sermões contidos no Marial apresenta Maria como a plena de graça, a Virgem em plenitude.[3]

Embora o pensamento mariológico laurenciano não é sistematizado, mas num dos seus sermões sugere que a mariologia deve haver um primeiro princípio[4] como as outras ciências. São Lourenço é considerado o maior mariológo do seu tempo.[5]

Contudo devemos nos lembrar que o autor deve ser lido na sua época, não tinhamos certos avanços da exegese e da antropologia, que hoje apronfundar e ajudam a ver com outra perspectiva temas abordados pelo autor. Ele usa como fonte principal as escrituras, mas lendo-as no sentido literal.

Que a ciência desenvolvida pelo nosso doutor capuchinho nos ajude a aprofundar a nossa devoção a Virgem Santa e a seu exemplo viver uma profunda relação com o Senhor vivendo plenamente embuido do mistério de Deus.


Bibliografia.

de armellada B., Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, in Laurentianum 44, 2003, p. 271-297.

________________., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.12-33.

________________., “Amor esponsal de Dios-Trinidad a la Virgem Maria en el Mariale de San Lorenzo de Brindis”, en Negotium Fidei. Miscellanea offferta a Mariano D’Alatri nel suo 80° compleanno, Istituto Istorico dei Cappuccini, Roma, 2001, p.287-311.

________________., “Le vie della belezza verso Maria nel Mariale di San Lorenzo da Brindisi”: Collectanea Franciscana72(2002)p. 231-249.

De Fiores, S. Maria nella teologia contemporanea, Roma, 1987.

Roschini, G., La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951



[1] Cfr.De armellada B., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindisi, p.31-33.

[2] ROSCHINI, G. P. 27. Maria é a obra prima de Deus.

[3] de armellada, Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.30.

[4] Cfr. De Fiores, Maria nella teologia contemporanea,p. 32. A maternidade divina de Maria é colocada como o princípio mariológico. Cfr. B de armellada, Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, p. 292. Lorenzo parece haver sido el primer teólogo que pone de relieve lo que puede considerarse el principio primario de la mariología: la maternidade divina.

[5] Cfr. g. Roschini, La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951. p. 16 Segundo esse autor São Lourenço o maior mariologo do seu tempo, reunindo em sí todas as caracteristicas de vários outros autores.