sábado, 9 de janeiro de 2010

A presença de Maria no Concílio Vaticano II.

O Concílio Vaticano II(1962-1965), sem dúvida é uma referência para a história da Igreja contemporânea, uma tomada de consciência da problemática, sobretudo, da missão da Igreja no mundo moderno e oferecendo novas perspectivas. Convocado pelo Papa João XXIII e encerrado por Paulo VI , foi uma corajosa opção de aggiornamento, e um chamado a abrir as janelas para a modernidade
Maria foi presença constante no Concílio Vaticano II, por exemplo: a primeira sessão do Concílio em 1962, inicia na festa litúrgica da maternidade divina de Maria, escolhida pelo Papa para recordar o Concílio de Éfeso(431), e a primeira sessão foi encerrada no dia da Imaculada Conceição . Em relação aos Concílios precendentes, esse foi diferente, pois não se realizou para resolver problemas doutrinais, mas para provocar na Igreja uma reflexão global sobre a sua relação com o mundo. No que se refere ao tema mariano em específico também foi diferente dos precedentes: os outros se limitaram a apresentar a associação entre Maria e Jesus, na encarnação salvífica, e a força da maternidade divina, no culto das respectivas imagens.(em Trento, por exemplo, o tema mariano foi acenado, sem tomar posição) , já o Vaticano II organizou um tratado completo sobre o tema mariano que toma corpo no capítulo VIII da Lumen Gentium.
A maioria dos documentos também fizeram referência a Maria, mas de maneira breve, como por exemplo, a Constituição sobre a liturgia, Sacrosantum Concilium, exortando que na celebração anual dos mistérios de Cristo, a Igreja venera com amor, Maria, Mãe de Deus, junto com a obra redentora do seu Filho, e admira e exalta contemplando o que a Igreja deve ser. O decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, Presbiterorum Ordinis, apresenta Maria como auxiliadora na missão sacerdotal e modelo de quem colhe a vontade de Deus. No decreto sobre a atividade missionária da Igreja, Ad gentes, todos os membros da Igreja são exortados a pedir a intercessão de Maria Rainha dos apostólos para que os pagãos sejam levados a luz evangélica. No decreto sobre a formação sacerdotal, Optatam Totius, os seminaristas são chamados a amar e venerar com confiança Maria. No decreto sobre o renovamento da vida religiosa, Perfectae caritatis, Maria é apresentada como o modelo de todos os religiosos que pela sua intercessão devem progredir e produzir frutos de salvação. No decreto sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam Actuositatem, Maria é colocada como o modelo perfeito de vida espiritual e apóstolica , pois vivendo uma vida familiar e de trabalho colaborou com o Filho na sua obra redentora. Mesmo depois de assunta, ela continua a colaborar com os irmãos, por isso devemos confiar a Ela própria vida e o apostolado.
Entre os 16 documentos aprovados se encontra a Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, que é denominada sua a Charta magna , cujo tema central é a doutrina sobre a Igreja Católica, nos seus 8 capítulos explicita toda auto-compreensão da Igreja. Essa inicia falando da Igreja, em geral, e aos poucos especifica cada setor começando pela hieraquia, depois os leigos , os religiosos, a vocação de todos os batizados e culmina com a exposição sobre Maria: apresentada na sua relação com a Igreja, nos interessa acentuar a importancia do capítulo VIII, dedicado a doutrina sobre a Beata Virgem Maria Mãe de Deus relacionada no mistério de Cristo e da Igreja que é a síntese bem feita e articulada da doutrina mariana.
A principal novidade mariológica do Concílio Vaticano II foi inserir Maria no arco da História da salvação, especialmente no mistério de Cristo e da Igreja. No enfoque histórico-salvífico evitou-se o isolamento dogmático do tratado de mariologia vencendo o abstratismo e o triunfalismo. O aspecto bíblico mostrou as prefigurações marianas no Antigo, e alguns textos mariológicos do Novo Testamento. O destaque dado ao seu lado humano, como mulher livre, pessoa consciente e responsável, que cooperou ativamente no projeto do Filho. O objetivo pastoral em relação à Maria foi renovar a vida de fé e não criar novos dogmas, sua preocupação era centrar a devoção popular mariana evitando os exageros. Algo muito importante de ser ressaltado é o valor desse documento para a mariologia contemporânea, se tornou realmente um marco decisivo. Afirmando a eclesiologia como necessária à mariologia, o senso eclesiológico contribuiu para realçar a verdadeira proporção dos privilégios de Maria
É preciso levar em consideração que a mariologia nem sempre foi baseada sobre o conteúdo concreto da mulher de Nazaré. Muitas vezes a reflexão mariológica era acusada de ser genérica, dedutiva, rica em conclusões e expressando uma pobreza de ponto de partida com uma exaltação da Mãe de Deus capaz de alimentar o imaginário humano. A mariologia contemporânea centra a figura de Maria na história da Salvação e mostrando o lugar que Ela ocupa nessa, com uma posição única e agraciada pela sua maternidade divina, e como mulher sujeito de fé ligando os dons da graça divina recebidos por Ela e a sua missão histórico salvífica na relação com Cristo e com a Igreja . O grande mérito do capítulo VIII está em conseguir fazer uma síntese harmoniosa, entre a mariologia manulística e a mariologia dos movimentos reformadores. Nessa síntese ambas visões se complementam mostrando Maria no mistério de Cristo e da Igreja.
Podemos concluir que Maria está presente no Concílio desde a sua preparação até a sua conclusão e as marcas que foram deixadas pelos textos do Concílio, fruto de muita reflexão e maturação ainda indicam uma estrada por trilhar onde Maria é proposta como o modelo, ela nos mostra como fazer a estrada confiando na Divina Providencia sem medo de enfrentar os desafios que a realidade nos propõe, sem retroceder, mas avançanda ainda que aos poucos.





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