sábado, 9 de janeiro de 2010

Uma reflexão sobre as aparições de Nossa Senhora.

O título acima citado é um argumento que chama a nossa atenção, principalmente nos últimos anos, com o aumento do número de aparições de Nossa Senhora, e imagens que choram, ou vertem sangue, vinho, azeite, ou ainda outros fatos miraculosos. Faz saltar aos nossos olhos a necessidade de aprofundar esses fatos para ter o devido discernimento. Sendo assim é de notar que recebe um relevo especial da parte dos teólogos e de outros estudiodos das ciências humanas. Pode ser algo característico da nossa época pós-moderna marcada pelo ceticismo, materialismo, secularismo, sendo o ser humano pós moderno aberto a sensibilidade vivendo no mundo da imagem, um modo de atingí-lo. Podemos compreender as aparições no contexto sócio-cultural da Europa de revoluções.

Nos últimos cinquenta anos o número das aparições anos ultrapassa os a 200, e muitas julgadas de maneira desfavorável, casos onde os videntes e pessoas da comunidade se separaram da Igreja católica.[1] Geralmente, acompanham as aparições fenômenos de toda espécie e profecias, que não devem nem ser acolhidas sem uma fé crítica, e de bases sólida, e nem de todo refutadas, lembrando o elemento carismático da Igreja, assim sendo toda inspiração celestial de fato autêntica deve ser acolhida com sincero respeito. Depois de Beauring e Banneaux(1032-1933) não temos aparições reconhecidas pela Igreja.

O sentido das aparições tem uma perda do valor, pois não tem um lugar que trata delas seriamente, nem mesmo nas disciplinas teológicas, que as define negativamente, a teologia dogmática e fundamental, a define como sendo um acessório desnecessário a revelação, a exegese contrapõe a revelação bíblica, a moral não toca no assunto, nem mesmo a mística e a espiritualidade, não a assumem e o direito canonico antigo se limitava a restrições, no novo direito nem ao menos uma norma. Por isso, primeiro é preciso entendermos muito bem o que se define por aparição para não conceituarmos como o médico francês Marc Oraison que numa perspectiva racionalista, a define como: alucinação.

Em categorias teológicas podemos dizer que o objeto das visões pertence ao espaço-eternidade e não ao espaço-tempo, dai seria estranho a nossos olhos, já que seriam o corpos gloriosos . No caso das aparições da Virgem, sempre está adaptada ao vidente, podemos dizer que pedagogicamente a metodologia divina alcança a quem quer atingir para revelar as mensagem. Podemos dizer que as aparições são uma manifestação sensível do sobrenatural mediada pelos sinais.

As aparição não são uma novidade se recorremos a Bíblia e podemos perceber que continuaram na Igreja em diversas modalidades, várias santos e fundadores de ordens tiveram visões. Nas origens cristã como na vida dos primeiros santos e mártires aparecem esses fenômenos. Na Idade Média as santas Brigida, Gertrudes, Catarina de Sena e de Genova e Madalena Pazzi vivenciaram esses eventos, entre outros.

As visões nem sempre são muito bem acolhidas, as vezes abafadas e caladas. Sempre com o objetivo de defender e com razão a instituição, a dimensão carismática era calada. Com o intuito de salvaguardá-la, mas também a unidade evitando o risco de cismas ou divisões.

No Concílio de Latrão V (1512-1517), por exemplo no que diz respeiro aos temas marianos nenhuma particular afirmação, simplesmente lidou-se juridicamente com as aparições e as pregações. Sinteticamente foi afirmado que: Tudo deve ser examinado pela Santa Sé, antes de ser publicado ou pregado ao povo de Deus. As restrições tem como razão principal a necessidade de proteger a Igreja e não criar problemas com a autoridade de outros bispos. [2] O método usado era o repressivo. O Concílio de Trento(1545-1563) seguiu mantendo as orientações do Concílio de Latrão V. Trento tomou muito cuidado com as imagens miraculosas. O Papa Bento XIV(1740-1758) dirá que ainda que aprovados pela Igreja devemos ser antentos ao sentido da fé católica. A partir de 1875 a Congregação para os Ritos se ocupará um pouco de legislar por decretos essas realidades como no caso de Nossa Senhora das Merces no Chile, Lourdes e Sallete. Pio X disse que a Igreja toma somente uma regra de segurança para nesses casos.

O Concílio Vaticano já imbuido de uma sensibilidade moderna está aberto a dialogar e os métodos são outros. Na Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium no seu capítulo VIII que trata especialmente da relação entre a Virgem e a Igreja, exorta os teólogos e pregadores no que diz respeito ao cuidado com o conteúdo a ser proclamado ao povo de Deus que sejam dilegentes tanto em relação ao falso exagero quanto da demasiada estreiteza de espírito[3] Nota-se sobretudo um ataque a dois males que colocam em risco a profundidade teológica da doutrina sobre a Virgem, o sentimentalismo e devocionalismo puramente superficial.[4]

Pode se entender também no nível do cuidado com a pregação e com a da devoção tratando como deve ser a nossa crença, certamente toca no que diz respeito as aparições de Nossa Senhora tão frequentes nos últimos séculos e se intensificam principalmente depois da proclamação do dogma da Imaculada Conceição(1854).[5] Citamos algumas aparições, entre as modernas[6]:

A Guadalupana, a sua história marca o nascimento da Igreja na América Latina O seu vidente é um nativo. Essa aparição traz em si caracteristicas interessantes, a Virgem toma o rosto e as vestes da cultura oprimida. [7]

As aparições localizadas na Europa datam do século XIX: em 1830, na França temos as três aparições na Rue du Bac, a Santa Catarina Labouré, durante o seu noviciado nas Filhas da Caridade em Paris dando origem a Medalha Milagrosa.

Em Salete , na França, em 1846 onde a Virgem apareceu a dois pastorinhos e chorava pelos pecados do mundo e pedia a conversão dos homens. Foi reconhecida do bispo local.

No ano de 1958 em Lourdes, na França, a Bernardete Soubirous somam-se 18 aparições, depois se tornou lugar de peregrinação, onde várias curas acontecem[8]. Em Pontmain, no ano de 1871, na França, a a Virgem da Esperança, talvez a única aparição silensiosa. As aparições de Fátima, Portugal em 1917, algumas aparições do anjo, e seis aparições da Virgem[9]. Em Beauraing, na Bélgica em 1932, cinco crianças viram por trinta e três vezes a Virgem perto da gruta. Em Banneaux, na Bélgica em 1933, onde a Virgem aparece nove vezes a Mariette Beco, uma menina pobre e se revela a Virgem dos pobres. Entre outras a Signora di tutti i popoli[10] (1945-1949) em Amsterdam , e Garabandal, na Espanha(1961-1971)[11] e a San Damiano, Piacenza, Itália a partir de 1964, a senhora Rosa Quattrini[12]. Essas são as que se destacam tendo uma repercursão na Igreja universalmente.

O discernimento é um procedimento necessário usando para isso alguns critérios: a aparição não deve ser acolhida como um fato totalmente novo que deve mudar a palavra de Deus ou a tradição, mas tem a função de dar esperança e jogar luz sobre o que é já revelado.

A definição da fé é crer no testemunho e aderir aos sinais visivéis, como algo sobrenatural dado por graça, as aparições enquadram nessa categoria, mas o importante é lembrar que as visões não subsitutuem a fé, uma aparição dura poucos segundos, enquanto a fé é permanente. O critério paulino que qualquer revelação que pretende mudar o dado revelado pode ser tida como falsa está vigor nesse caso, pois as aparições tem o papel não de propor doutrinas novas, mas de animar na fé e na esperança. A aparição joga luz sobre a revelação e não se apresenta como algo totalmente novo que muda tudo.Por isso, para ser acolhida se obedece aos critérios, por exemplo, se não existe contradição entre essas mensagens e a Palavra de Deus e a Tradição da Igreja. [13]

Como regra prática: as revelações privadas não podem ter o mesmo peso que as Escrituras, temos uma hierarquia de valores, os textos do magistério evidenciam essa a ambiguidades dos fatos, e um elemento é o bom senso em discernir o que é patologia e sanidade. E mesmo sendo o vidente totalmente são, nunca tomar ao pé da letra tudo, lembrando que pode ter nas mensagens alguma coisa da sua personalidade.

Porque as aparições de Maria e o que tem de positivo?

A Virgem está necessariamente está unida a Cristo e a Igreja. Ela indica o caminho do discipulado de Cristo que se dá na medida em que se cresce na compreensão realizando a missão. Nas suas aparições a Virgem continua cumprindo sua função de Serva do Senhor, aquela que soube acolher com total disponibilidade a Palavra de Deus Encarnada como dom gratuito, de mediadora entre os homens e seu Filho, e a sua função materna. Maria sendo a mais próxima de Cristo é também muito próxima dos membros do Corpo místico pode exercer sua função materna. A comunhão dos santos seria o lugar ideal para colocar e explicar as aparições. Com as aparições crescem as peregrinações aos santuários marianos mostra que a peregrinação moderna está embuida de um caráter mariano, devido ao culto mariano e também a coerente papel de Maria na História da Salvação. As pessoas buscam chegar a Deus através de Maria, a cada dia aumentam os peregrinos nos santuários marianos.[14]

As palavras da Virgem nas aparições assumem caracter profético no sentido que convidam a conversão e a mudança de vida. As mariofanias trazem alguns elementos comuns como: conversão, oração e consagração. A Virgem é a mensageira desses elementos e traz consigo um chamado a responsabilidade que os cristãos tem pelo futuro.





Bibliografia :

Magistério.

Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium

Estudos.

Ambrosio, G. Il fenomeno delle aparizioni di Maria nell’atuale constesto socioreligioso, in Teologia 13(1988, p. 291-309.

alonso, J. Fatima, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 569

Balic, C. Apparizioni mariani dei secoli XIX-XX, in Enciclopedia mariana Theotocos, 1958, p. 234-254.

Balthasar, H. Aprite i cuori all’Immacolata, ecco appare la Madre di Dio, in Il sabato, 1983, p.19.

Bertetto, Magistero, in Nuovo Dizionario di Mariologia, p.843-852.

calero, A. Maria em el misterio de Cristo y de la Iglesia, p. 41.

De Fiores, S. Maria Madre di Gesù, sintesi storico salvifica, Bologna,1992, p.355-360.

__________.

Laurentin,R. Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 134-137.

________. Maria nella Storia della Salvezza, Torino,1972,p. 175.

________.Lourdes in Nuovo Dizinario di Mariologia, p. 795-805.

maccagnan, V Guadalupe, in Nuovo Dizinario di Mariologia, p. 655-667.

rosso, S. Pellegrinaggi, in Nuovo Dizinario di Mariologia, p.1080-1103.

Philips, G. La Iglesia y su misterio en el Vaticano II, Historia, texto comentario de la Lumen Gentium,p. 355-356.

Pizzarelli, A. Presenza, in Nuovo Dizionari di Mariologia, p. 1045-1051.



[1] Cfr. R Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 127-129.

[2] Cfr. Bertetto, Magistero, 843-852.

[3] Cfr. LG 67 in EV 443.

[4] Cfr.G. Philips, La Iglesia y su misterio en el Vaticano II, Historia, texto comentario de la Lumen Gentium,355-356.

[5] Cfr. A. calero, Maria em el misterio de Cristo y de la Iglesia, p. 41. As aparições são fenômenos presentes desde a Antiguidade, mas esse fenômeno se acentua a partir do século XVI. Onde começamos a ter aparições de Nossa Senhora sozinha, não necessariamente acompanhada de Jesus. Principalmente vários santos e muitos fundadores de Ordens religiosas.

[6] Cfr. R. Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 127. Nos referimos a essas como modernas no sentido de diferenciar das aparições biblicas ou dos primordios da Igreja.

[7] Cfr. V. maccagnan, Guadalupe, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 655-667.

[8] Cfr.R Laurentin, Lourdes in Nuovo Dizinario di Mariologia, 795-805.

[9] Cfr. J alonso, Fatima, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 569-576.

[11] Cfr.Site: http://www.profezieonline.com 23/05/2008.

[12] Cfr. Site : http://profezie3m.altervista.org 23/05/2008

[13]Cfr.R Laurentin, Apparizzioni in Nuovo Dizinario di Mariologia, 134-137.

[14] Cfr. S rosso, Pellegrinaggi, in Nuovo Dizinario di Mariologia, 1080-1103.

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