sábado, 9 de janeiro de 2010

A Mariologia franciscana no Marial de São Lourenço de Brindis.

A Virgem Maria sempre foi e será uma refêrencia para escola franciscana, um modelo de seguimento e inspiração para viver em união com o Jesus Cristo, em todas as épocas encontraremos frades devotos que a cantam os louvores de Nossa Senhora, e continuamente aprofundam a doutrina sobre a mãe de Deus.

Seguramente a Virgem tem um lugar privilegiado porque está mais próxima do Filho e ao mesmo tempo ligada a Igreja, logo é ela o modelo perfeito para nos inspirarmos para um discipulado autentico o mais próximo possivel a Cristo.

A tarefa de suma importância tange seu conteúdo teórico, é fundamental no que diz respeito ao testemunho de vida. A reforma capuchinha sempre se confiou a Nossa Senhora, os santos homens sempre foram apaixonados por Ela e a tomaram como modelo de vida e inspiração evangélica. Entre os nossos santos temos São Lourenço de Brindis (1559-1619)[1], sendo orfão, se transfere a Veneza, onde aos dezesseis anos entrou na Ordem dos Capuchinhos, recebendo o nome de Lourenço, cedo recebeu encargos, fazendo ministro provincial, e chegando a ser ministro geral de 1602 a 1605. Exerceu um grande trabalho como pregador, e principalmente defendendo o catolicismo contra o protestantismo nascente. Algo que contribuiu para divulgar sua fama de santidade foi o que aconteceu na batalha de 1601, contra os turcos em Albareale(Hungria) onde parte com o crucifixo em mãos, invocando os nomes de Jesus e Maria contra o inimigo. Nessa batalha os cristãos vencem e sua fama de santidade é difusa. Em 1619, morre provavelmente envenenado a Lisboa. Porém seus escritos nos deixam conhecer um pouco desse incansável pregador capuchinho que em 1959 será proclamado por João XIII, Doctor apostolicus.

Um dos seus escritos mais conhecidos é o chamado Marial de São Lourenço de Brindis, na mesma carta apostólica Celsitudo ex humilitate que o faz doutor da Igreja, o Papa João XIII comenta a importância do Marial.

O Marial na sua forma inicial não tem a intenção de ser um tratado de mariologia, escrito para esse fim, mas é uma coleção de 84 sermões sobre a Virgem. Porém a o seu esquema sistemático, no sentido acadêmico, que partem da realidade histórica, bíblica, e espiritual de Maria. O autor medita as narrações escriturísticas, no sentido literal e sobrenatural, e também depois parte da percepção do mistério da salvação na história e transcendência da sua missão de Maria como laço humano para a presença histórica do Verbo divino, com suas qualidades e dons. Aproveita as figuras femininas do Antigo e do Novo Testamento para trabalhar aspectos de Maria no sentido espiritual. Relaciona Maria com o mistério da Trindade, e também como morada de Deus entre os homens. São Lourenço já apresenta temas que serão tratados na mariologia renovada. No que toca ao diálogo com os irmão separados, o autor viveu na época do confronto entre protestantes e católicos por questões confessionais. Aqueles acusavam esses de idolátras: adoradores de Maria, e insistiam que o único mediador é Cristo, por isso, Lourenço defende a posição católica, até mesmo usando expressões violentas.

O Marial é tão completo sistemáticamente falando que o autor estabelece mesmo o primeiro principio como acontece com todas as outras ciencias. Sendo estabelecido que o primeiro princípio para a mariologia sistemática é a maternidade divina, sem esquecer outros de menor valor na hierarquia dos valores ou digamos não menos importante, mas que são classificados em um segundo plano, como a singularidade, a conveniência, eminência, a analogia e semelhança de Cristo. Todas as ciências tem um primeiro principio. A reflexão laurenciana estabelece o primeiro princípio para a mariologia sistemática , que é a maternidade divina, sem esquecer o que ele chama de principios secundários que estão ligados ao principio primário.A singularidade afirma que não existe ninguém igual a Maria. Ela é uma pessoa de tudo singular realmente um milagre de Deus. Pela sua pessoa, pelo que Deus realizou nela e pela lugar que ocupa. Maria é o “Capolavoro di Dio”[2]

O principio de conviniência segundo qual Deus escolhe uma pessoa para uma missão e chama e dipõe as coisa de acordo que o chamado seja digno de sua eleição. Deus enriquece Maria de dons particulares compativeis com o seu chamado de ser Mãe do Verbo e esposa de Deus e usa esse principio para sustentar temas como a Imaculada Conceição.

A eminência com esse princípio mostra a nobreza de Maria . Lourenço nos faz entender a grandeza de Maria usa a mulher do apocalipse para ilustrar esse principio e afirma que Maria é menor que Cristo, como a lua é menor que o Sol, porém brilha mais que todos os outros astros e outras criaturas, assim é Maria.

A semelhança e analogia com Cristo através desse principio afirma que Maria é semelhante a Cristo em tudo. Cristo está direita de Deus e Maria está direita de Cristo. Também os santos são semelhantes a Cristo, porém Maria de modo singular, não igual, semelhante. Resumindo o Marial apresenta uma completa elaboração da doutrina sobre a Virgem que segundo Frei Bernardino de Armellada, se queremos traduzir um conceito o Marial, a palavra mais perfeita para descrevê-lo seria “plenitude”. O conjunto de sermões contidos no Marial apresenta Maria como a plena de graça, a Virgem em plenitude.[3]

Embora o pensamento mariológico laurenciano não é sistematizado, mas num dos seus sermões sugere que a mariologia deve haver um primeiro princípio[4] como as outras ciências. São Lourenço é considerado o maior mariológo do seu tempo.[5]

Contudo devemos nos lembrar que o autor deve ser lido na sua época, não tinhamos certos avanços da exegese e da antropologia, que hoje apronfundar e ajudam a ver com outra perspectiva temas abordados pelo autor. Ele usa como fonte principal as escrituras, mas lendo-as no sentido literal.

Que a ciência desenvolvida pelo nosso doutor capuchinho nos ajude a aprofundar a nossa devoção a Virgem Santa e a seu exemplo viver uma profunda relação com o Senhor vivendo plenamente embuido do mistério de Deus.


Bibliografia.

de armellada B., Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, in Laurentianum 44, 2003, p. 271-297.

________________., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.12-33.

________________., “Amor esponsal de Dios-Trinidad a la Virgem Maria en el Mariale de San Lorenzo de Brindis”, en Negotium Fidei. Miscellanea offferta a Mariano D’Alatri nel suo 80° compleanno, Istituto Istorico dei Cappuccini, Roma, 2001, p.287-311.

________________., “Le vie della belezza verso Maria nel Mariale di San Lorenzo da Brindisi”: Collectanea Franciscana72(2002)p. 231-249.

De Fiores, S. Maria nella teologia contemporanea, Roma, 1987.

Roschini, G., La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951



[1] Cfr.De armellada B., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindisi, p.31-33.

[2] ROSCHINI, G. P. 27. Maria é a obra prima de Deus.

[3] de armellada, Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.30.

[4] Cfr. De Fiores, Maria nella teologia contemporanea,p. 32. A maternidade divina de Maria é colocada como o princípio mariológico. Cfr. B de armellada, Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, p. 292. Lorenzo parece haver sido el primer teólogo que pone de relieve lo que puede considerarse el principio primario de la mariología: la maternidade divina.

[5] Cfr. g. Roschini, La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951. p. 16 Segundo esse autor São Lourenço o maior mariologo do seu tempo, reunindo em sí todas as caracteristicas de vários outros autores.

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