sábado, 9 de janeiro de 2010

Maria, a mulher de Nazaré na perspectiva antropológica do capítulo VIII da Lumen Gentium.

O Concílio Vaticano II percebeu a necessidade de mudar a mentalidade e com essa também os metódos. È perceptivel o esforço de responder aos problemas do mundo moderno, e se abrir as janelas a modernidade , andar ao encontro, de aggiornamento. A aceitação da contribuiçãodas ciências modernas como mediação no modo de fazer teologia é fundamental para essa tomada de posição. Essa influencia é percebida em documentos como a Gaudium et Spes e a Lumen Gentium, que consequentemente exerce influencia sobre a mariologia. Ajudada pelas ciencias humanas a teologia apresenta Maria como a expressão da humana colaboração com a ação savifica de Deus
O influxo dessa nova metologia faz vir a luz um rosto de Maria que ha muito estava escondido. Pouco a pouco se revela a Maria bíblica, a mulher de Nazaré, que enfrentou as dificuldades cotidianas . Aquela que lidou com as coisas costumeiras, as tarefas simples, e banalidade dos fatos cotidianos. Enfrentando as dificuldades da sua época como tantas outras mulheres , vivendo na cidadezinha perdida nos confins da Galiléia, e nessas condiçoes aceitou o chamado de Deus. Sem negar, a nova metodologia deixa na sombra a chamada mariologia dos privilégios, baseada em especulações teológicas, mostrando uma mulher idealizada, menos humana e mais uma semi-deusa, que além de distorcer o papel da Virgem quebra a sintonia com as fontes biblicas, patristicas e liturgicas, e criando ainda dificuldades com os irmãos reformados.
O capítulo VIII fazendo uso do recurso antropológico, coloca Maria no seu devido lugar, centrada no mistério de Cristo e da Igreja, intimamente unida a Cristo e a Igreja, ao mesmo tempo que muito proxima de Cristo, mas por outro lado unida a Igreja e como parte dela. Não sobre a Igreja e nem abaixo, mas caminhando com a Igreja.
A dimensão antropológica não se trata de fazer uma análise antropológica do documento, mas essa palavra seria para indicar a contribuição humana, a abertura humana à vontade de Deus, como adesão madura consciente e responsável. Digamos os valores humanos. O lado humano a abertura da Virgem de Nazaré enquanto ser humano que mergulha em Deus. Esse valor para a reflexão teológica coloca em evidência a atuação humana diante da História da salvação, mostrando como o homem não é simples objeto da vontade de Deus, mas é um sujeito que mesmo nos seus limites coopera no projeto de Deus.
Esse critério aplicado a Maria e ajudado pelos textos bíblicos, nos faz perceber valores expressivos na sua vida histórica, apresenta uma riqueza para a experiencia cristã, o testemunho de fé que mostra na sua generosa cooperação como pessoa livre, consciente e responsável a serviço da pessoa e da obra redentora de Cristo. O documento revela esse elemento humano próprio da criatura que se coloca a disposição de Deus, e Maria é o modelo expressivo da cooperação humana no plano de Deus. Evidenciando sua personalidade feminina de serva do Senhor, e mulher hebreia pobre de Deus, em sua mais completa disposição para acolher a vontade de Deus:
“Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Luc. 1,38). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção.Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. ”
Esse número do documento faz notar que o ser humano também colabora com a obra e com os desígnios de Deus. Para aceitar a salvação é necessário haver uma disposição interior, uma abertura da parte humana para acolher a vontade de Deus. Nesse caso Maria não simplesmente foi submissa aceitando cegamente aos desígnios de Deus, mas quis colaborar, deu a sua contribuição, se colocou consciente e responsável a disposição do Senhor . Abriu seu coração em uma disposição interior de acolher a vontade de Deus. Como o próprio texto acima afirma não foi simplesmente objeto passivo utilizado por Deus, mas colaborou mediante a fé e obediencia ao projeto de Deus de salvar os homens. Quando Maria escuta a saudação do anjo e diante das palavras decide responder o seu “Sim” abraçando a vontade de Deus. Nesse sentido Maria faz uma escolha de entrar com sua vida e sua missão na pública história da Salvação. A graça divina e vontade humana agem em concordância fazendo com que Maria seja disponível a vontade divina. Não são momentos destacados mas agem conjuntamente a benevolência de Deus e o agir humano , de modo que a sua ação é plena de significado salvífico. Com a sua resposta generosa a Deus, Maria coloca a mulher num plano diferente do habitual, já que seja no plano religioso ou social a mulher era inferiorizada. Maria se apresenta como a mulher capaz de uma decisão que tem uma contribuição na salvação da inteira familia humana. Exercendo um papel de indivíduo que executa uma ação responsável e decisiva .
A reflexão teológica avança nessa direção, podemos notar na mariologia pós conciliar ensaios que aprofundam a linha antropologica como os trabalhos de Gebara e Boff que fazem vir a tona o rosto humano da Virgem de Nazaré. Em certo sentido é resposta ao homem pós moderno que bombardeado de tantas idéias e correntes de pensamento e tem a possibilidade de encontrar em Maria o modelo do ser humano que se realiza colocando-se a disposição de Deus.
Bibliografia

CONCILIO VATICANO II, costuzione dommatica sulla Chiesa Lumen Gentium, in Enchiridion Vaticanum, VolI, 10 ed., n.426- 445, Bologna, 1976.

AQUINO, P. A Teologia, a Igreja e a mulher na América Latina, São Paulo:
Paulinas, 1997.
BERTOLA, M. Antropologia, in Nuovo Dizionario di Mariologia, p. 88-91.

BOFF L. O rosto materno de Deus - Ensaio interdisciplinar sobre o feminino e
suas formas religiosas, Petrópolis: Vozes, 1979.

CARRETO, C. Maria a mulher que acreditou. São Paulo. Paulus. 7ª edição:
1980.
DE FIORES, Maria nella teologia contemporanea, Roma, 1987.
__________, Maria nel mistero di Cristo e della Chiesa, Roma, 1995.

__________, Paradigma antropologico, in Maria Nuovissimo Dizionario, p. 1242-1260.

GEBARA, I.; BINGEMER M.C.L. Maria , Mãe de Deus e Mãe dos pobres – Um
ensaio a partir da mulher e da América Latina, Petrópolis: Vozes, 1987.
JHONSON, E., Vera nostra sorella. Una teologia di Maria nella comunione dei santi, Brescia, 2005.

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